ARTIGO: Origem do sÃmbolo @ (arroba) - Rivadavia Severo
Por algum tempo, o termo "arroba" permaneceu em relativo esquecimento, reaparecendo em grande estilo com o advento da informática. A medida de peso para o preço do boi vivo ou carcaça, do velo de lã, referente a 15 quilos, é ainda usada em alguns outros agronegócios. Agora, o termo está sendo utilizado por pessoas de todas as idades, no mais moderno meio de comunicação da humanidade. O símbolo @ não é mais do que uma representação taquigráfica da palavra (arroba) e um pequeno equívoco provocou sua inclusão no mundo das comunicações a distância.
A taquigrafia (takys=ligeiro+graphis=escrita) ou estenografia (steno=breve) foi muito utilizada, em especial por jornalistas, a fim de apanhar os pronunciamentos integrais de seus entrevistados; o gravador portátil e o celular dispensaram o estenógrafo, atuante, praticamente agora, só em algumas casas legislativas. Não podendo prescindir dos registros em seus anais, elas utilizam taquígrafos como segurança para eventuais falhas nos apontamentos eletrônicos; e os norte-americanos até possuem uma máquina estenográfica, como se pode observar nos filmes ambientados em júri popular.
As primeiras notícias que se têm da escrita rápida são atribuídas a Marco Tulio Tiro e suas "Notas Tironianas". Esse escravo romano anotava os discursos de Cicero no Senado, entre elas as famosas catilinárias, do último século da Era passada. Excertos desses discursos são ainda conservados e serviram de textos em provas de latim nos vestibulares para os cursos de Direito, até meados do século passado.
Para indagar as razões que trouxeram esse símbolo para os lares universais, recorre-se à pesquisa realizada pela taquígrafa Adriana Chemite (sic).
Na Idade Média os livros eram escritos à mão pelos copistas.
Precursores da taquigrafia, os copistas simplificavam o trabalho substituindo letras, palavras e nomes próprios por símbolos, sinais e abreviaturas; não por economia de esforço, nem para o trabalho ser mais rápido. O motivo era de ordem econômica: a tinta e o papel eram valiosíssimos.
Foi assim que surgiu o til (~), para substituir uma letra que nasalizava a vogal anterior. O nome espanhol Francisco, que também era grafado "Phrancisco", ficou com as abreviaturas "Phco" e "Pco", daí o nome ganhar o diminutivo Paco. O nome de São José aparecia seguido de Jesus Christi Pater Putativus, ou seja, pai suposto. Mais tarde, os copistas passaram a adotar a abreviatura "JHS PP" e depois, "PP"; isso explica porque, em espanhol, José tem o diminutivo Pepe.
Para substituir a palavra latina et (e), os copistas criaram o símbolo que é resultado do entrelaçamento das duas letras: &, sinal popularmente conhecido como "e comercial". Com o mesmo entrelaçamento, os copistas criaram o símbolo @ para substituir a preposição latina ad, que tinha, entre outros, o sentido de "casa de". Com o advento da imprensa, foram-se os copistas, mas os símbolos @ e & continuaram a ser usados nos livros de contabilidade. O primeiro aparecia entre os números de unidades de mercadoria e seu preço: assim, o registro contabilista "10@£3" significava 10 unidades ao preço de 3 libras cada uma. Nessa época, o símbolo ficou conhecido em inglês como at ("a" ou "em").
No século XIX, nos portos da Catalunha, o comércio e a indústria procuravam imitar práticas comerciais e contabilistas dos ingleses. Como os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses atribuíam ao símbolo @, supuseram, por engano, que seria uma unidade de peso. Para esse entendimento contribuíram duas coincidências: a unidade de peso comum para os espanhóis, na época, era a arroba, cujo "a" inicial lembra a forma do símbolo; os carregamentos desembarcados vinham frequentemente em fardos de uma arroba.
Dessa forma, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registro "10@£3" como dez arrobas a 3 libras cada uma. Então, o símbolo @ passou a ser utilizado pelos espanhóis para significar "arroba", que veio do árabe ar-ruba, que significa, a quarta parte, em números redondos, de outra medida árabe, quintar (quintal= 58kg75).
As máquinas de escrever, na sua forma definitiva, começaram a ser comercializadas no início do último quarto do século XIX, nos EE.UU., e o teclado tinha o símbolo @, posteriormente herdado pelos teclados dos computadores. Em 1972, ao desenvolver o primeiro programa de correio eletrônico (e-mail), Roy Tomlinson aproveitou o sentido @ (at em inglês), disponível no teclado, e utilizou-o entre o nome do usuário e o nome do provedor. Assim, "Fulano@ProvedorX" passou a significar "Fulano no provedor" (ou na casa X).
Em diversos idiomas, o símbolo @ ficou com o nome parecido com sua forma: em italiano, chiocciola (caracol); em sueco, snabel (tromba de elefante); em holandês, apestaart (rabo de macaco); na Áustria, pretzel, e em outros paises europeus, strudel, um doce em forma circular.
Rivadavia Severo
Professor
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